A carência de docentes de Educação Básica pode se tornar excesso
Existem mais de 2,2 milhões de professores atuando na educação Básica no Brasil, segundo o Censo de Educação 2018. Quase 80% deles estão nas escolas públicas. Com a proposta da universalização da educação básica, o número foi considerado insuficiente ainda mais que 22% dos docentes apresentam 50 anos ou mais, ou seja, mais de 350 mil professores das escolas públicas de educação básica estão em fase de final de carreira. A relação entre a demanda e a restrita força de trabalho disponível estimulou, no início da década passada, diversas iniciativas para a formação de professores.
Algumas medidas governamentais foram importantes, como um programa de financiamento público (FIES) específico para candidatos a licenciaturas com juros menores. Além disso, a rede de Universidades Públicas do Estado de SP, como a Universidade Virtual (UNIVESP), abriu dezenas de milhares de vagas gratuitas em licenciaturas.
As instituições privadas também contribuíram muito com a oferta. Foram mais de 6,7 milhões de vagas presenciais e mais de 6,5 milhões de vagas EAD. Destas 13,2 milhões de vagas ofertadas, 3,2 milhões foram ocupadas no mesmo ano de 2018, sendo 670 mil novos alunos nas licenciaturas. Se continuar a se repetir o número de ingressantes nas licenciaturas a cada ano, serão necessários cerca de 5 anos para que o número de novos docentes se iguale ao de profissionais já atuantes na educação básica.
Apesar do crescimento do número de novos docentes ter resolvido a falta de mão de obra de anos atrás, há um outro desafio que não recebeu a mesma atenção na última década: a baixa qualidade da formação. Estes professores chegam ao mercado educacional em um momento em que a reforma da educação básica estabelecida pela nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular) exige um novo modelo de educação, mais contextualizada, com demandas de novas metodologias e novos recursos educacionais.
O perfil dos alunos muito mais críticos e exigentes pelas suas experiências não condiz com uma proposta educacional conteudista e não contextualizada, não aplicada ao desenvolvimento de competências e habilidades. Outro ponto que destaca a falta de equilíbrio neste crescimento de oferta de docentes é a falta de política de carreira e de especialização do corpo docente em práticas pedagógicas. Ao contrário do que fizeram países que são referências em educação básica, como a Finlândia, Coreia e até a China. Tais nações investiram em programas de formação e planos de carreiras valorizando os resultados obtidos em exames de certificação do aprendizado.
Mais uma vez, o Brasil perdeu o seu momento de crescimento, focando mais em números do que em qualidade. Se, durante a crise econômica dos últimos anos, houve a perda do bônus demográfico (que se transformou em ônus: uma base de jovens que não estudam nem trabalham), espera-se que na educação, não ocorra o mesmo. É preciso evitar que o bônus de docentes graduados se transforme em mão de obra sem capacidade de transformar.
Por CÉSAR SILVA Diretor Presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT).
Texto publicado primeiro em: Gazeta Norte Mineira – 06 Jan. 2020
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