O desalento com a economia parte da educação
A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad), divulgada pelo IBGE no final de agosto, revelou um contingente imenso de “desalentados”. Dentre os 12,9 milhões de desempregados, 4,8 milhões, ou 4,3% da população ativa, após ficarem sem ocupação formal por períodos que vão de 18 a 24 meses, simplesmente desistiram da busca pela recolocação no mercado de trabalho.
As perspectivas pioraram. Empresas permanecem com capacidade de produção ociosa, enquanto que grande parte destes cidadãos está despreparada para o novo mundo do trabalho, o que preocupa mais que a própria economia desaquecida. Se o PIB crescer, essas pessoas serão absorvidas pelo mercado e se manterão empregadas?
Fatores econômicos de curto prazo dependem de perspectivas de negócios e regulatório claro e estabilizado. Em um país com 208 milhões de habitantes, democrático e com poderes estabelecidos, é certo de que haverá consumo e que negócios prosperarão. Porém, estabilidade e crescimento econômico decorrem de fatores estratégicos, de longo prazo, que passam por políticas de melhoria da capacidade intelectual e produtiva da população.
Estudos da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicam que a melhoria da capacidade de produção e crescimento do PIB na casa de 2% de um país demandam variações de 100 pontos no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), desenvolvido e aplicado pela própria organização.
Nos últimos três ciclos de avaliação (2009, 2012 e 2015) a média dos resultados de estudantes brasileiros em Matemática ficou abaixo dos 400 pontos. No último, em 386, rendendo a 66ª posição entre 70 países. Em Leitura, 412 pontos (ante 407 nos ciclos anteriores), resultando na 59ª posição. Em Ciências, 405 pontos: 63ª posição. Nos ciclos anteriores, foram 401 e 402 pontos. As classificações e a falta de evolução são, no mínimo, vexatórias.
Parte deste desempenho resulta de uma grande distorção nas políticas brasileiras para educação. O investimento anual médio por aluno praticado por países da OCDE no início do Ensino Fundamental, o Fundamental 1, é de US$ 8.730. No Brasil, são apenas US$ 3.800. No Fundamental 2, os países da organização investem US$ 10.110 por aluno/ano; o Brasil, US$ 3.840. Já no Ensino Superior, a média é de US$ 16.140, ante US$ 11.670 no país.
Além dos baixos valores, no Brasil persiste o equívoco de se investir mais na Educação Superior do que na Básica. Ignora-se que é muito mais difícil e custoso corrigir os problemas de formação na idade adulta. Desconsidera-se a relevância de possibilitar uma formação consistente na idade certa, quando as condições físicas, neurológicas e psicológicas são mais favoráveis para tal.
Essa é uma das razões para que o ensino médio apresente tanto indicadores pífios de qualidade quanto um número irrisório de concluintes. Em 2017, cerca de 40% dos brasileiros com 19 anos, idade máxima para conclusão desta etapa de ensino, não a tinham concluído. A universalização da Educação Básica, uma das metas do Plano Nacional de Educação, não parece ser perseguida.
O equívoco de privilegiar investimentos na educação superior em detrimento da básica é evidenciado por outro ranking. The Economist Intelligence Unit, elaborado pela divisão de pesquisa da revista britânica The Economist, mede as competências de estudantes de 15 a 24 anos para as demandas de um mercado de trabalho em plena transformação, em que se vive a Revolução 4.0.
Ao invés de avaliar as notas dos alunos em provas específicas, detém-se em indicadores que levam em conta o ambiente de ensino, as políticas públicas para a educação e o cenário do desenvolvimento socioeconômico do país. O estudo listou as seis habilidades que os estudantes precisam desenvolver para se tornarem profissionais competitivos: capacidade analítica e criativa, conhecimento digital e técnico, consciência crítica e global, empreendedorismo, interdisciplinaridade e liderança. Dos 35 países analisados, que somam 85% do PIB mundial, o Brasil aparece apenas na 22ª posição.
Os movimentos desenvolvidos nas políticas de estado para a educação não sinalizam qualquer expectativa de melhora na formação dos cidadãos, sem o que não é possível esperar muito da economia brasileira.
Cesar Silva (*)
(*)Cesar Silva é presidente da Fundação FAT, entidade sem fins lucrativos que desenvolve cursos e projetos nas áreas de tecnologia e educação.
Fonte: Gazeta do Povo. 19/09/2018
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