Fundação FAT apresenta novo modelo de aprendizagem a gestores de municípios paulistas

Mais de 30 gestores responsáveis pelas redes de ensino de nove municípios paulistas participaram, no último dia 26, de um tipo diferente de aula. A fim de que os educadores vivenciassem uma forma nova de aprendizagem, eles foram orientados a executarem todas as etapas de pequenos e simples projetos que envolviam lâmpadas de led, desde sua concepção e confecção de cada componente até sua montagem final. No processo, familiarizaram-se com tecnologias, desde mecânicas a eletrônicas, assimilando conhecimento por meio de uma atividade prática.

A iniciativa, realizada pela Fundação FAT em parceria com o Mundo Maker, visava apresentar novos processos aprendizagem a fim de que os programas do ensino fundamental sejam adequados às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em maio e que norteará os programas educacionais para o ensino fundamental a partir do próximo ano em todo o país. “A proposta principal da BNCC é fazer com que o aluno saiba como aplicar o conhecimento que recebe em sala de aula. Ao invés de despejar conteúdo no estudante, o ensino deverá fazer com que ele associe o saber do fazer”, explica o consultor da Fundação FAT em Políticas Públicas voltadas à Educação, Francisco Borges.

Segundo o especialista, a proposta do evento foi fazer com que os gestores participassem de uma modalidade de aprendizagem diferente, que valoriza a experiência como meio de assimilação de conhecimento. “A BNCC traz o aluno para o centro do processo educativo. Aqui, os gestores puderam vivenciar esta experiência, executando projetos que proporcionaram conhecimento por meio de uma aplicação prática”, diz. “O espaço proporcionou uma experiência nova a esses gestores que, tão acostumados a discutirem planos pedagógicos em gabinetes e auditórios, puderem vivenciar o processo de aprendizagem em um local totalmente novo”, observa.

O local escolhido para o evento, a unidade Shopping Morumbi Town do Mundo Marker, possui, de acordo com Borges, as características ideais para este novo modelo de aprendizagem. Dotado de ferramentas de diversos tipos, equipamentos – de cortadora a laser a impressora 3D – e componentes diversos necessários para a execução de variados tipos de projetos – pregos, parafusos, canos de PVC, tábuas de MDF e outros –, o Mundo Maker é uma iniciativa que visa proporcionar o contato manual do estudante com diversos tipos de tecnologias, desde as mais simples às mais tecnológicas, a fim de dar significado ao processo de aprendizagem.

“Objetos virtuais carecem de significado. As crianças são habituadas a eles porque este é o modelo de mundo que lhes oferecemos. Basta elas terem contato com objetos físicos ou projetos eletrônicos ou mecânicos que elas assimilam. As crianças são abertas ao que lhes é oferecido. Basta dar um recurso diferente que elas se apaixonam”, diz Orlando Lobosco, co-fundador do Mundo Maker.  A iniciativa, criada em 2015, possui quatro unidades em São Paulo e atua como parceira em três escolas que aplicam seu programa em espaços próprios em diversos níveis do ensino fundamental.

Borges destaca que cada município pode possuir um espaço voltado a este tipo de aprendizagem. “Já existem projetos muito parecidos que contam com o apoio da iniciativa privada. Não são exatamente como este, mas são espaços estruturados que surgem da realidade de cada município”, diz. Segundo o especialista, parcerias com Instituições de Ensino Superior podem proporcionar às redes municipais equipamentos para esse tipo de instalação.

“Talvez uma impressora 3D não seja necessária para alguns projetos, mas existem faculdades, universidade e centros universitários que produzem este tipo de equipamento e que os fornecem gratuitamente quando são baseadas em um projeto pedagógico”, afirma Borges, que ressaltou que a Fundação FAT pode contribuir para que os municípios busquem este tipo de fomento. “A entidade pode ajudar as prefeituras a obterem recursos para a implantação desses projetos. Quem atua em educação, sabe o quanto uma escola técnica muda a realidade de um município”, acrescenta.

O secretário de Educação de Gália, Antúlio José de Azevedo, que atua há mais de 50 anos em educação, ressalta a experiência vivida no evento como exemplar. “É uma forma de garantir o protagonismo do aluno. No momento em que ele está realizando um projeto, ele sente prazer em aprender”, afirma. “Rubem Alves dizia que o professor bom é o que não ensina nada. O professor tem de ser o professor de desafios, de dialética, do criar, do estímulo ao aluno”, diz citando um dos mais importantes pedagogos do país, falecido em 2014. Porém, segundo o secretário, o modelo atual de ensino, está muito distante desta concepção.

“A gente observa que, após 17 anos, o aluno conclui a educação fundamental sem conseguir resolver os problemas mais simples do dia a dia. Isso acontece porque a escola não ensinou como desenvolver competências. Limitou-se a transmitir conhecimento. É necessário um novo pensar, voltado justamente ao desenvolvimento de competências.” diz.

Francisco Borges destacou que a BNCC traz apenas as diretrizes para a constituição do currículo de cada rede e para a formulação dos planos de projetos pedagógicos das escolas. “Municípios têm características distintas e as escolas, suas identidades próprias, o que deve ser respeitado nas propostas de cada instituição. O BNCC é a base que dá rumo para onde a gente quer chegar. Indica os objetivos, mas não como eles serão atingidos. Isso deve ser previsto na proposta pedagógica de cada gestão. Nossa intenção é que a experiência vivida neste evento faça os gestores contemplarem novos modelos de aprendizagem, que despertem uma nova forma de pensar a tecnologia, desde as mais manuais às mais tecnológicas. O professor deve proporcionar a descoberta ao aluno e não apenas despejar-lhe conhecimento”, conclui.

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