Sem educação de qualidade, não há inserção produtiva da juventude

Vivemos hoje um cenário único no Brasil, com uma geração de jovens formada por mais de 50 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos. E se ela é o futuro do País, que esperança podemos ter diante da falta de políticas públicas específicas para as juventudes?

Acostumados com as belezas naturais, a abundância de terras e sem nunca ter passado por guerras, catástrofes naturais ou algo do gênero, o brasileiro deixou de valorizar o meio ambiente, as oportunidades à sua frente, a educação e se tornou um povo desperdiçador. Alguns pequenos fatos corriqueiros, que vemos no nosso dia a dia, mostram esta falta de preocupação com os bens comuns e os avanços sociais, na contramão do senso de coletividade. Isso tem uma grande relação com a educação, pois somente a partir dela é que podemos nos desenvolver como nação, crescendo por meio de nossa ciência, de nossas descobertas, tendo como norte a preocupação com o bem-estar de todas as camadas da sociedade.

Neste momento da história, onde o mundo precisou se recolher diante de uma pandemia e se reestruturar para um modelo de interação com a sociedade mais digital e menos presente, vimos o desemprego dos jovens avançar, assim como a evasão escolar, que, se não combatida, terá impacto enorme não só no futuro e nos sonhos dos jovens, mas nos de suas famílias e do Brasil.

A percepção dos pais de que as juventudes, principalmente, não se sentem conectadas à escola não é um fenômeno que surgiu com a crise sanitária, mas piorou muito com ela. Por outro lado, o novo coronavírus escancarou como os jovens não se sentem acolhidos também no mundo do trabalho, demonstrando a falta de uma consciência coletiva.

A individualidade está ainda mais aflorada. É necessário que este panorama seja mudado. Lideranças e corporações devem estimular o coletivo, o jovem, a educação. A geração Z, nascida a partir de 1995, tem de ter fomento para estar na sua plenitude como força de trabalho, no entanto, grande parte se encontra desmotivada, sem trabalho, sem estudos, compondo o grupo mundial de “nem-nems”.

Estamos em fase de Enem, às vésperas dos vestibulares, mas o tempo deve ser o de construir algo para o futuro. O tempo é limitado para formar nossas juventudes. Temos uma oportunidade grandiosa em vista com o novo ensino médio, mas ainda existe uma dissociação entre a educação e o mundo do trabalho na formação de nível médio, e esse fato condena milhões de jovens a terminar esta etapa pouco preparados.

Ainda hoje, o Brasil não dispõe de uma política nacional para os jovens que estabeleça ações articuladas e que proporcione oportunidades de formação profissional para todos ou promova uma educação de qualidade que possibilite o prosseguimento dos estudos. Na internet, explodem temas como desemprego, evasão escolar, desigualdade social, burn out e isso decorre de uma falta de motivação, de pouco empenho coletivo, em um momento em que as empresas têm os seus colaboradores em home office. Os períodos longos isolados prejudicam a conexão entre as pessoas.
Todo este cenário piora quando associamos à economia fraca, ao alto desemprego e às baixas perspectivas de evolução econômica e social pela conjuntura. É preciso olhar além, fazer um esforço e entender que a evolução só se dará por meio de incentivos na educação, na redução da desigualdade social e na abertura de possibilidades para que os jovens possam brilhar e ganhar o mundo por meio do conhecimento.

O momento do País é muito delicado, com os jovens cada vez mais querendo ser jogadores de futebol, blogueiros, influencers e gamers, mas o que não está sendo levado em conta é que esta mentalidade que movimenta toda uma geração provoca o afastamento do caminho dos estudos, da resiliência, da construção e do crescimento.

Estudar e construir repertório, atuar em situações de aprendizagem, é desenvolver respeito ao outro, é agregar valor à toda uma sociedade. É hora de unirmos forças para mudarmos o atual cenário e garantirmos oportunidades de futuro. A educação é o vetor do desenvolvimento de todo um país; a juventude é o futuro e, a nós, cabe garantir que o amanhã seja produtivo, valioso e capaz de levar esta geração de jovens ao alcance de todo o seu potencial.

Apenas através da educação é que podemos construir um Brasil melhor. Não há rotas mais curtas ou escapes, é preciso criar ferramentas para preparar a juventude brasileira para ocupar as novas oportunidades na velocidade necessária e com uma mão de obra qualificada. Não haverá desenvolvimento socioeconômico, consciência de coletividade e nem redução da desigualdade sem a inserção produtiva da juventude e acesso a uma educação de qualidade.

Francisco Borges é mestre em educação e consultor de políticas educacionais da Fundação FAT – Fundação de Apoio à Tecnologia

Publicado primeiro em: Conexão Magazine
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