Grupos de educação começam a ver alternativas
Os resultados trimestrais dos grupos educacionais com capital aberto sinalizam tanto o momento mais delicado para o setor como uma tendência de mercado. “Alguns grupos sinalizam que a saída para as instituições será a verticalização, com a oferta de cursos no ensino médio”, afirma o consultor da Fundação FAT em Políticas Públicas voltadas ao Ensino, Francisco Borges.
As dificuldades vivenciadas pelas Instituições de Ensino Superior (IESs), segundo o especialista, resultam tanto da queda na procura pelo ensino superior quanto do excessivo volume de vagas ofertadas. “Simultaneamente à paralisação dos estímulos públicos para a busca de graduação, houve portarias do MEC que acabaram por ampliar significativamente o número de novos cursos”, diz.
Borges destaca que, recentemente, centros universitários e universidades valeram-se de suas prerrogativas para criar cursos não regulamentados. Outra razão para o excessivo número de vagas foi a liberação pelo MEC, em 2017, para a abertura de polos EaD onde as IESs não possuíam cursos presenciais. “As instituições podem abrir de 50 a 150 polos ao ano. Agora, sem alunos, elas têm de manter cursos para atender a poucos matriculados”, diz.
Como resultado desse tipo de iniciativa, apenas um terço das vagas é preenchida hoje. “O pior é que esta vacância deve crescer porque, hoje, temos, pela primeira vez, mais matriculados no ensino superior que no médio”, diz o especialista. “Seja por falta de programas oficiais de incentivo ou pelo cenário econômico, os jovens não vêm hoje a graduação como uma forma de ascender na vida”, diz. Segundo Borges, o problema não se limita às instituições privadas. “Nas universidades públicas, que têm cursos gratuitos, 13% das vagas não são preenchidas. Sinal de que, nem de graça, os estudantes se interessam pelos cursos”.
Entre os grupos do setor listados na B3, o que obteve melhor resultado foi o Estácio, com lucro líquido de R$ 236,9 milhões no primeiro semestre, 42,5% acima de igual período de 2017. Para Borges, isso decorre da estratégia de criar cursos de ensino médio em partes de seus campi. “O grupo aproveitou instalações ociosas e pessoal para viabilizar esta nova oferta. Isso gerou um ganho de escala que tende a crescer, já que, com a reforma do ensino médio, a procura por cursos profissionalizantes deve se intensificar”, diz o especialista.
Outro grupo que deve se valer da reforma é o Kroton. Com a compra da Somos, terá mais 1,2 milhão de novos alunos na educação básica – segmento em que já atuava com a marca Pitágoras, que conta com 227 mil estudantes – além de mais 32 milhões de matriculados em escolas privadas atendidas por editoras da SOMOS. “Haverá ganho de escala e menor gasto com captação de alunos, que poderão atravessar todas as etapas do ensino na mesma instituição”, diz.
Isso, porém, ainda não se reflete em valorização em bolsa. Aliás, pelo contrário: as ações da Kroton sofreram queda de 43,6% entre 9 de janeiro e 17 de agosto. “Isso se deve à expectativa do mercado de que, como na tentativa de aquisição da Estácio, a compra da Somos seja inviabilizada pelo CADE”, diz Borges. Ele, no entanto, acredita que a autoridade antitruste aprovará o negócio. “No caso da Estácio, a compra resultaria em uma concentração muito grande no ensino superior. Desta vez, com a Somos, a Kroton mira outro nível de ensino”, opina.
O consultor da Fundação FAT destaca que, dentre os quatro grupos educacionais de capital aberto, o que teve maior crescimento de receita foi o Anima. “A receita é um indicador importante, já que apontaria para a procura pelos cursos das instituições num momento de baixa demanda. Mas as variações observadas não refletem este aspecto. Baseiam-se em outros”, diz. Borges credita o crescimento de 8% no faturamento do grupo ao fim da oferta de cursos EaD e ênfase nos presenciais, que têm ticket médio maior.
“Essa estratégia é parte de uma busca pela diferenciação dos demais grupos, por meio de um modelo, supostamente, mais qualitativo. Esse movimento, porém, além de elevar os custos operacionais, ainda não convenceu o mercado nem quanto à qualidade dos cursos nem se o projeto dará resultado”, diz Borges apontando o prejuízo de R$ 3 milhões no primeiro semestre ante um lucro de R$ 16 milhões em igual período de 2017.
Fonte: Monitor Mercantil, 10/09/2018
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