Por trás da crise da saúde também está a educação à deriva

Na ocasião do processo eleitoral para a presidência da República em 2018 não houve sequer uma discussão sobre as políticas públicas para a Educação. Entre os inúmeros motivos para esse descaso está o não comparecimento aos debates do então candidato Jair Bolsonaro.

Eleito, o presidente definiu um ministro sem qualquer experiência de gestão, pública ou privada. O que demonstrava que não havia um plano, uma proposta educacional consistente. E não foi só na Saúde que as trocas aconteceram sem parcimônia e aprofundaram o caos.

A sequência de nomes indicados para gerir a pasta mostra total descalabro. Primeiro veio Ricardo Vélez Rodríguez, um filósofo do lado idealista do governo, que deteriorou as relações com as instituições públicas e privadas. Foi substituído por Carlos Alberto Decotelli.

O economista nem chegou a assumir porque estava devastado pela sequência de mentiras publicadas em seu currículo lattes. Veio, então, a indicação de Milton Ribeiro. Teólogo e advogado que não conseguiu trazer uma linha de gestão transparente, atuando mais para agradar o chefe.

O sinal de uma pasta executiva à deriva sai pelas chaminés do convés e pelos furos do casco da nau sem controle denominada Ministério da Educação.

Centenas de milhões de reais do Fundeb, principal fonte de financiamento da educação básica, aplicadas de maneira equivocada em vários estados do Brasil, somada à sequência de trocas de lideranças nas pastas internas ao MEC, como as secretarias de Regulação – Seres; Secretaria do Ensino Superior, Sesu; Secretaria da Educação Técnica e Tecnológica, Setec; e agora, com a quinta troca de liderança a Secretaria de Educação Básica, SEB, mostra que não existe uma proposta do Governo Federal para fazer com que a educação seja efetivamente produtiva para a sociedade.

Em plena pandemia e com escolas fechadas, a meta do governo é a de aprovar o homeschooling no Brasil. Mais uma vez, um tema ideológico, sem coerência com a realidade do país, que padece de estrutura de autoestudo precária, pela falta de um plano de apoio tecnológico básico para escolas. É algo que fomenta um modelo que vai contra a batalha de anos para aproximar os jovens das escolas. Qual a motivação dessa iniciativa, sem qualquer plano estabelecido?

É fato que não há liderança e atuação sem uma proposta real e consistente. Assim como é certo que o coronavírus afeta a população de hoje, de maneira intensa e impiedosa. Mas o vírus da falta de planejamento estratégico afetará a sociedade brasileira de amanhã. Quase sem controle, o navio da educação segue desgovernado, destruindo o presente e o futuro da nação.

 

César Silva é diretor-presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP).

Publicado primeiro em: Monitor Mercantil
Compliance Comunicação