Educação é alicerce da construção social

O ensino superior no Brasil enfrenta uma anomalia, pois muitos graduados acabam ocupando cargos que não correspondem à sua formação e as vagas destinadas a quem tem formação técnica acabam sendo preenchidas por profissionais com diplomas universitários.

Esse fenômeno é prejudicial tanto para os formados quanto para o mercado de trabalho, pois cria um descompasso entre qualificação e ocupação.

É preciso entender que a juventude brasileira enxerga a educação como um meio de emancipação social. Trata-se de acesso à dignidade.

Um diploma hoje tem um valor mais do que emocional, mas também social e financeiro, pois o que os jovens buscam na obtenção de um diploma é um contrato de trabalho ou mesmo um registro em carteira.

Portanto, o longo e caro caminho do ensino superior acaba por marginalizar uma geração enorme de jovens que hoje conhecemos como “nem nem” – nem estuda e nem trabalha.

A dificuldade desta trajetória desmotiva a participação no desenvolvimento de cursos de graduação que preparam para cargos que são remunerados como ocupações de nível médio.

A baixa procura por diversos cursos ofertados nas instituições públicas e a enorme quantidade de vagas ofertadas no ensino superior versus as matrículas ocorridas a cada ano demonstram que o produto curso de graduação está desvalorizado.

Isso ocorre pelo baixo valor que agrega aos concluintes. O Prêmio é bem menor do que o investimento de tempo e dinheiro realizado.

Nesse cenário, programas de qualificação profissional surgem como uma solução eficaz para inserir rapidamente os jovens no mercado de trabalho, proporcionando-lhes a oportunidade de, mais tarde, fazer escolhas acadêmicas. Sendo este mais tarde, a partir do ingresso no mercado de trabalho.

A apologia ao ensino superior, como a solução para formar profissionais para o mercado de trabalho é totalmente equivocada, pois não saem dos bancos acadêmicos graduados preparados para atuar nas reais demandas das empresas de diversos setores.

A rápida evolução tecnológica também traz à tona novas profissões que não são cobertas pelo ensino regulado, e apenas uma formação ágil pode suprir essa demanda.

Mais uma vez, demonstrado pela baixa procura de matriculados frente a enorme quantidade de vagas ofertadas todos os anos: menos de 12% das vagas existentes são preenchidas a cada etapa de processo de acesso ao ensino superior.

A educação é o grande alicerce da construção social. É preciso uma organização clara de formação desde a educação básica até os programas de mestrado e doutorados que deveriam coroar uma trajetória de formação com a produção de artigos científicos e, principalmente, com a solicitação de novas patentes de produtos e serviços inovadores demandados por um país que equilibra a ciência e com o trabalho.

É preciso uma agenda de estado para implementação de Políticas Públicas eficazes que permitam aos jovens acesso a programas de qualificação profissional com foco e incentivo voltado a empregabilidade.

O ensino técnico de nível médio deve ser aderente às cadeias produtivas regionais e é preciso ofertar uma etapa de ensino superior que desenvolva saberes científicos que se diferenciem na empregabilidade. Estudar sempre, estudar o que se aplica, estudar para desenvolver mais que saber e fazer, significa construir identidades sociais que transformem o país.

Daniel Nascimento, Coordenador dos cursos da Fundação FAT.

Publicado primeiro em: Folha de Pernambuco (https://www.folhape.com.br/noticias/opiniao/educacao-e-alicerce-da-construcao-social/351901/)
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