Quando a Educação vai começar, de verdade, no Brasil?

Todos os anos é comum ouvirmos que o ano começa, efetivamente, após o carnaval. É natural que as Escolas e as Instituições de Ensino Superior façam o seu calendário acadêmico começando após a festa nacional. Mas, neste ano, não temos, oficialmente, a festa popular em nenhum estado, e em São Paulo não será nem feriado. As instituições de ensino já deveriam ter divulgado seus calendários, porém o atraso da apresentação de conteúdos e ofertas de aulas é um fato em todas as instâncias.

As instituições de ensino superior federais de ensino superior, devido ao adiamento da realização do ENEM de novembro de 2020, para janeiro de 2021 só iniciam suas aulas em abril, fazendo com que centenas de milhares de jovens já matriculados adiem o retorno aos estudos e fiquem sem atividades acadêmicas neste período importante do ano.

As Escolas Públicas Estaduais e Federais estão retornando a conta-gotas, ajustando seus planos de ensino ao modelo que se aplicou desde o ano passado, com atividades presenciais esparsas, distribuídas ao longo da semana associadas a oferta de conteúdos em plataformas digitais.

Mesmo em estados, como São Paulo, onde o retorno das aulas foi determinado para o início de fevereiro, a falta de segurança sanitária tem assustado professores e profissionais de apoio escolar, fazendo com que parte deles decida por não retornar e estabeleça uma greve. Este é mais um fator de insegurança para pais e alunos, que temem chegar nas escolas, com os riscos de contaminação sem que tenham certeza da atividade pela possível falta da equipe escolar.

A desarticulação em um setor tão relevante para uma nação chega a trazer desespero para todos os atores, desde os mantenedores, gestores de escolas públicas e privadas, professores, pais e principalmente os alunos.
O jogo de cenas iniciado em março de 2020 é prorrogado até hoje sem que sejam estabelecidas real estratégias e políticas públicas nacionais. Não vemos o MEC com as suas secretarias e órgãos de regulação e de políticas públicas como SERES, SETEC, SEB, SESU e INEP se articularem com os Conselhos Nacional de Educação, Conselhos Estaduais de Educação e as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação para definir um plano que de segurança aos mais de dezenas de milhões de brasileiros que participam desta realidade.

As pesquisas de órgãos particulares como da “Educa Insights” indicam que mais de 38% dos alunos já matriculados pretendem adiar seu retorno aos estudos no ensino superior. Os efeitos desta insegurança causada pela falta de gestão do processo da pandemia serão extremamente danosos ao setor educacional.
Se por um lado o INEP manteve o ENEM, com mais de 50% de evasão, as visitas de avaliação das instituições de Ensino Superior, visando ofertar novos cursos ainda não começaram em 2021, o que traz mais desalento a um setor que precisa de agilidade nas ações e precisão nas estratégias. As visitas não acontecem, os processos ficam parados, novos cursos mais adequados a realidade do momento não são oferecidos. Assim, muitas instituições particulares de educação superior estão correndo o risco de deixar de funcionar, sem alunos para os cursos presenciais e sem poder ofertar novos cursos em uma modalidade mais adequada.

Quando será que realmente a educação será fator relevante no Brasil?

César Silva é diretor Presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC-SP há mais de 30 anos. Foi vice-diretor superintendente do Centro Paula Souza. É formado em Administração de Empresas, com especialização em Gestão de Projetos, Processos Organizacionais e Sistemas de Informação.

Publicado primeiro em: D Marília – Revista News – 17/02/2021.
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