O desafio da reforma do ensino médio
Todas as propostas de organização de conteúdos e de metodologias de aprendizagem e do ensino partem de conhecimentos essenciais que possibilitem ao indivíduo cumprir seu papel na sociedade ou em um grupo de atividade produtiva. Assim, todo projeto educacional trata em sua essência do Saber e do Saber Aplicado. Quanto mais integrados forem, melhor será o resultado.
Nisto se fundamenta a Reforma do Ensino Médio, detalhada na Base Curricular do Ensino Médio e no instrumento regulatório que parametriza sua carga horária. Nela, estão os componentes curriculares que seguem cinco eixos de especialização a serem oferecidos aos jovens, a fim de que tenham uma terminalidade após, pelo menos, doze anos de estudos.
A Reforma surge com resposta regulatória e tecnicista ao fato de que, após três anos de estudos do Ensino Médio, onde estão cerca de 8 milhões de alunos, 25% buscam continuidade no ensino superior. A cada ano, 6 milhões de brasileiros que estudaram superficialmente muitos temas saem do fluxo educacional, abandonando-o sem qualquer especialização para se colocar no mercado de trabalho.
Há hoje pouco tempo destinado a um grande volume de saber, que acabava subutilizado. A redução do número de disciplinas determinada pela base comum nacional não visa facilitar o aprendizado, mas sim dar-lhe um foco, com o aprofundamento de temas essenciais, como leitura e interpretação de textos, análise lógica, síntese de temas e vínculo do aprendizado a cenários da vida real.
Hoje, obter a informação é fácil. Selecioná-la, filtrá-la, analisá-la e aplicá-la é o diferencial esperado. Com menos temas, alunos poderão aprofundar a busca por assuntos de interesse, tornarem-se críticos, criteriosos e ativos na aplicação do saber de maneira efetivamente produtiva.
Outro eixo da Reforma é o que permitirá a alunos construírem uma trilha formativa no desenvolvimento de atividades profissionais. Seguindo este modelo, o Centro Paula Souza conseguiu, com a oferta de cursos técnicos concomitantes ao ensino propedêutico médio, tanto a redução da evasão escolar quanto um índice de empregabilidade da ordem de 85% entre seus formandos.
Outra experiência de sucesso quanto à aproximação do saber e do saber aplicado são encontradas no Grupo Eleva, que busca um posicionamento qualitativo, com um modelo educacional concebido e sustentado em conteúdo contextualizado. Por conta disso, tem uma demanda bastante expressiva pelos seus cursos e pelos seus serviços.
Esta nova forma de pensar e olhar a educação, com menor diversidade de temas, mais profundidade e maior aproximação com o mundo real e do trabalho deve se propagar nas redes públicas e nas instituições privadas. A Reforma rompe com um modelo que dissociava o saber da sua real aplicação no mundo do trabalho e que ampliou a desigualdade socioeconômica, como a geração de jovens incapazes de buscar seu sucesso no mercado de trabalho.
(*) Cesar Silva é presidente da Fundação FAT