Educação profissional deve ser alavanca do PIB

Leia artigo de César Silva sobre como estimular jovens a se dedicar a cursos técnicos no ensino médio

A educação superior como se apresenta agora, com cursos que se mostram fora do desejo dos jovens, fechamento em larga escala dos cursos presenciais e evasão com taxas superiores a 40%, não atende aos anseios de uma ou duas gerações que não suportam mais se deparar com temas que não agregam real e imediato valor ao objetivo de se colocar de forma diferenciada no mercado de trabalho. 

Parte da responsabilidade está nas diretrizes curriculares, estabelecidas em gabinetes acadêmicos que não conversam com a real demanda do mercado de trabalho. A outra está na proposta de carreira e de plano de remuneração, que desmotivam o investimento de tempo e dinheiro quando se pensa nas dificuldades de empregabilidade e de atuação sem reais planos de aprimoramento profissional. Afinal, a realidade de carreira é totalmente incerta para um investimento tão significativo. 

Por último, temos a qualidade dos projetos pedagógicos e a forma de entrega das atividades acadêmicas. As instituições públicas oferecem cursos com metodologias ultrapassadas, pois não é possível substituir o docente concursado que não muda o seu modelo de aula e fica preenchendo lousas com teorias e resolvendo exercícios já resolvidos dos livros. Já nas instituições privadas, temos a estratégia do mínimo esforço: o aluno faz a entrega das atividades rasas, os professores fingem que corrigem e os que pagam todas as mensalidades no prazo – ou mesmo atrasadas – têm acesso ao diploma, que vale o que pesa (papel de gramatura baixa e pouca tinta de impressão). 

Vem dessa estrutura um desafio gigantesco: educar e preparar os jovens para o mercado de trabalho. E, como percebemos, isso não ocorrerá por meio dos cursos acadêmicos. Precisamos estimular os “nem-nems” a voltar a estudar e se aplicar ao mundo do trabalho, de maneira a contribuir para o PIB, fortalecer negócios que tragam recursos para a Previdência e cobrir os custos do país, em envelhecimento e na segunda derivada

É preciso estimular os mais jovens a se dedicar a cursos técnicos durante o ensino médio (nas modalidades integrada ou concomitante), para que possam se candidatar a empregos que gerem valorização do aprendizado desenvolvido. Além disso, os estudantes podem se sentir estimulados a dar continuidade aos seus estudos e buscar o ensino superior como parte do seu aprimoramento pessoal e de capacidade produtiva. 

A educação profissional de nível médio, contextualizando as atividades com práticas reais de mercado, em cursos de duração menores, acaba por ser a alternativa mais rápida de formação e de acesso ao mercado de trabalho. Diante desse fato, devemos destacar que o PIB brasileiro pode crescer 2,3% pela relação direta do aumento de alunos formados em cursos técnicos, segundo estudo recente do Itaú Unibanco. 

A pirâmide demográfica está mudando rapidamente no Brasil e no mundo. Por aqui estamos na menor taxa de filhos por mulher na história do país. Temos menos filhos do que as norte-americanas. Vão faltar jovens para se capacitar e se preparar para o mercado de trabalho e para produção de renda para cobrir os custos de um país com mais idosos. A quantidade de crianças no ensino fundamental e de jovens no ensino médio é declinante. Com isso, o país empacou, formando na faixa de 1,8 milhão de jovens por ano no ensino médio. E vai cair ainda mais! 

A estrutura previdenciária do Brasil está se tornando uma grande pirâmide de ilusionismo: como cobrir os custos do país com a sua população mais experiente? Está chegando a hora da verdade, ou o país envelhece pobre e se torna um Estado assistencialista que será ameaçado de quebrar por receita (PIB) baixa e por despesas (Previdência, saúde, educação e segurança) altas, que não são reduzidas devido à necessidade de subsídio do Estado ao cidadão desqualificado para o mercado. 

De pária a herói, o modelo de educação profissional é a saída para a geração de empregos e renda, libertando o Brasil do assistencialismo e elevando sua capacidade de produção. Em um país com tantos desafios associados à mão de obra qualificada e, ao mesmo tempo, com o abismo de renda existente entre as classes altas e baixas, o futuro que vamos construir a partir de agora será, sem dúvida nenhuma, um divisor de águas para o modelo atual de trabalho e de relações trabalhistas e os futuros profissionais e empresas nas quais atuarão. 

(*) César Silva é diretor-presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) 

Publicado primeiro em O Tempo: https://www.otempo.com.br/opiniao/2024/6/17/educacao-profissional-deve-ser-alavanca-do-pib-

Compliance Comunicação