Disputa por universidades pode gerar apenas 3 grandes grupos educacionais no país
Após Ser Educacional comprar Laureate, da Anhembi Morumbi, Yduqs, da Estácio, promete proposta pela mesma empresa, que tem 260 mil alunos
A disputa por relevância e sobrevivência no mercado educacional privado no Brasil viveu um importante passo de consolidação nesta segunda-feira.
Pela manhã, o grupo Ser Educacional, forte no Norte e Nordeste, com cerca de 190 mil alunos, anunciou a compra da Laureate, de 260 mil alunos, por R$ 4 bilhões.
Mas a Yduqs, de marcas como Estácio e Ibmec — com cerca de 570 mil alunos —, prometeu, poucas horas após a divulgação do negócio, uma oferta, em até um mês, maior pela empresa que estava sendo adquirida.
A aquisição inclui as universidades Anhembi Morumbi e FMU, de São Paulo.
De acordo com especialistas, mais que ganho de mercado, este movimento reforça uma consolidação no setor educacional privado.
Se a Ser de fato levar a Laureate, chega a cerca de 450 mil alunos, ganha musculatura no Sudeste e no Sul — regiões que tendem a se recuperar mais rápido da crise causada pela pandemia do novo coronavírus, e acrescenta a seu portfólio marcas reconhecidas nacionalmente e cursos com maior rentabilidade.
“A Ser possui uma estrutura mais enxuta que os pares de capital aberto no mercado, com posição forte e base crescente de alunos no Ensino à Distância (EAD). Os ativos incluem cursos como Medicina, com ticket médio mais elevado, fortes nas duas principais universidades dentro dos ativos da Laureate, Anhembi Morumbi e FMU, ampliando a base de alunos na categoria de Saúde, que já representa 52% da base da Ser. A entrada em São Paulo, o maior mercado educacional do país, que deve ter uma recuperação econômica mais acelerada que outras regiões” afirmou relatório da Levante Investimentos.
A disputa pelo controle da Laureate impulsiona as empresas envolvidas na negociação. Nesta segunda, as ações da Ser educacional operam com alta superior a 10%, enquanto a Yduqs tem valorização de 8,5% na Bolsa de São Paulo.
Para a Yduqs, que segundo fato relevante, mostra a importância da Laureate ao afirmar que “acredita ter condições de apresentar proposta concorrente mais atraente dentro do prazo estabelecido para o go-shop (no qual poderá solicitar e aceitar, até 13 de outubro de 2020, proposta vinculante apresentada por terceiros e que seja superior à efetivada pelo Grupo Ser Educacional).
Além de evitar que a Ser fique de um tamanho próximo do seu, a compra da Laureate a aproximaria da líder de mercado do país, a Cogna, com cerca de um milhão de estudantes.
— O que estamos vendo uma uma disputa grande por um bom posicionamento neste mercado. Com a consolidação, grupos com menos de 100 mil alunos terão dificuldades, ainda mais em um ambiente onde o ensino a distância ganha importância— avalia Francisco Borges, consultor de de políticas educacionais da Fundação FAT (Fundação de Apoio à Tecnologia). – O que estamos vendo é apenas parte do processo, novas aquisições devem ocorrer.
Na opinião do especialista, os grupos que podem participar deste processo de consolidação são empresas como Ánima, Unip-Objetivo (hoje um dos maiores grupos do país, com cerca de 400 mil alunos), Positivo e Uninove, entre outros menores.
Ele acredita que, ao fim deste processo, o país deva ter apenas três grandes grupos educacionais privados listados em Bolsa.
— Podemos ver o que ocorre no setor financeiro, uma grande concentração, mesmo que alguns grupos detenham várias marcas fortes — disse Borges.
Para ele, contudo, não basta comprar escolas e universidades. Aquisições recentes, complementa Borges, mostram que elas nem sempre foram bem sucedidas. Afirma que o grupo precisa reconhecer as diferenças das marcas, suas culturas.
Tanto assim que, para evitar problema de imagem, a Estácio mudou de nome para Yduqs, para não gerar estranhamento nos alunos do Ibmec.